1 - Saudade:
Ela não vem dolorida, ou agonizante. Na verdade nunca veio, acho que me preparei tanto pra isso que ela até se recusa. A saudade que eu sinto é uma sensação de que minha vida era demais e eu nunca valorizei. Eu sinto falta de pequenas coisas, mais do que grandes momentos.
Da minha família eu sinto falta da bagunça em casa, das briguinhas com minha vó, do cheiro do feijão, e do inútil do meu gato. E não é que eu não sinta saudade de minha mãe ou vó e irmão. Eu sinto, e muito, mas o fato de eu voltar em pouco menos de 6 meses alivia.
Sinto falta do meu quarto minúsculo, "A toca do Leão", como dizia minha vó. Até das sextas de manhã que eu era acordada porque Rosa, a faxineira, tinha que limpar meu quarto.
Dos 20 reais que eu pedia religiosamente pra minha mãe, mesmo quando eu tinha dinheiro. Do pão de queijo fresquinho que eu comprava quase todos os dias, eu pedia 100 gramas mas o cara era o porteiro do prédio e sempre me dava mais, e cobrava menos.
Da minha vó sinto falta das reclamações, do cheiro de alho e cebola que sempre estava nas mãos dela, do cochilo da tarde que ela sempre acordava as 3 horas. Sempre. Do café com leite e do pão com mortadela que ela me fazia comprar e eu ia reclamando.
Da minha mãe, sinto falta das conversas, das saídas juntas, das risadas. Da companhia, de horas que eu confundia minha mãe de minha amiga e acabava falando demais...
Do meu irmão sinto falta de só ir conversar mesmo com ele quando saímos para churrasco. Eu sempre esperava ele ficar meio bêbado pra abraçá-lo,porque se eu o fizesse normalmente ele ia estranhar. Sinto falta também dele brigando comigo porque sempre pegava um CD dele e esse sumia. Os duendes sempre o escondiam. E da ignorância dele em relação a hardware, era sempre eu que resolvia tudo.
Da minha tia eu sinto falta das visitas diárias, de conversar as mesmas coisas que conversava pelo telefone, de passar 20 minutos com ela do sofá só falando de Ana Maria Braga e do concurso de calouros do Raul Gil.
Dos meus amigos, sinto falta de sair e me divertir em qualquer lugar. Dos rodízios japoneses com a Martina e das visitas sem bater na casa da Karen. Das cervejinhas e broncas que tomava da Bia e das besteiras que falava com Fezoka. Das lições de Velho Dú e das risadas com Marina, Luísa, Mariana.
Das lembranças dos amigos do colégios, dos desenhos na casa da Pri e das festas com todo mundo junto.
2 - Comida:
Essa é demais, a falta é tanta que nem fome aqui eu sinto mais, não tenho vontade de comer.
3- Homens:
Ah, eu sempre reclamei deles. SEMPRE, agora rezo pra encontrar um aqui que possa pelo menos me dar um abraço sem querer me comer.
O que percebi aqui é que eu passei a ser quem eu realmente sou. Percebi que não sou menina de balada, que não me apetece sair pra caçar, que não sei cozinhar, não sei mesmo. Que sou muito mais ingênua do que pensava ser, e muito mais pudorenta. Que sou muito mais responsável e madura que eu pensava.
A experiência de viver aqui ensina a viver um dia de cada vez, não se pode esperar grandes coisas de pessoas que não te conhecem. Que de um minuto para o outro a bomba-relógio pode explodir e você ficar sem teto. E que principalmente não se pode generalizar nada.
Se eu voltasse hoje pro Brasil, ia dizer muito mais eu "te amo" e muito menos "obrigada". Ia me preocupar muito menos com o pensamento alheio e ia me dedicar mais as amizades.
Ainda que se eu voltasse agora, iria passar muito mais tempo com minha família e amigos, ia falar pra minha vó todos os dias como a comida está deliciosa. Ia dizer pra minha mãe que eu sou o que sou porque sigo ela, porque a admiro.
Mas não vou voltar agora, ainda tenho 5 meses de aprendizado. 5!!.. Até ontem eram 8. O tempo voa.
O tempo corre.
E eu também...Cresço!