terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Mixture!

A prisão para aqueles que cometeram crimes hediondos é simples. Uma caixa de concreto, de 4 metros por 4 metros, com grades espaçadas. A sensação é a de que qualquer pessoa consegue passar pelas grades, só que elas estão envoltas à uma membrana de acrílico, totalmente transparente. Qualquer tentativa de fuga é sem sucesso, uma vez que quanto mais forte bater na proteção, mais forte volta a força e o prisioneiro cai, e sério.

A comida é trazida apenas 1 vez por dia, em uma porção média que o criminoso tem que saber dosar para durar um dia inteiro. Líquidos são trazidos em baldes que outrora fora usado como cumbuca. A cor, nem sujo nem limpo, estranha, colorida.

Quanto mais tempo permanecer preso, mais contaminado vai ficando. Dentro da água que és obrigado a beber e da comida, estão implantados DNA de diversas espécies. É um experimento grande, ficcional, mas muito perverso.

O prisioneiro vai ficando cada vez mais miúdo, mais sem vida, mais sem força. Vai diminuindo e se tornando apenas um bicho estranho, feio, daqueles que qualquer um mata ao encontrar no chão. A cela vira uma selva de pedra, de pedra mesmo, tornando-se o novo habitat daquele inseto grotesco. Mil vezes pior do que a barata e o caixeiro viajante de Kafka.

Simplesmente grotesco!

Assim estava o pai de minha amiga, acusado de homicídio doloso, erroneamente (dizia Fernanda, filha adorada). Quando o encontramos ele era apenas um bicho cinza, sem graça e feio. Mas com o passar das conversas tornou-se um ser azul e verde, mais pegajoso e melado. Cresceu, não havia dúvidas, mas cresceu feio.

Debatia-se contra a proteção de acrílico e sujava com sua meleca toda a extensão da cela que já não era mais de pedra, agora era mato. Não sabíamos se era uma reação ao ver sua filha normal, humana e adulta ou de que essa mesma filha trouxera outra humana-normal-adulta para odiá-lo.

E Fernanda chorava baixinho, soluçando discretamente. De sua boca ouvíamos as palavras "meu pai...meu pai". Percebi que não era lugar pra mim, e decidi pegar meu carro em frente a cadeia. Que era perturbantemente perto demais da casa onde a família de Fernanda vivia.

Meu carro estava estacionado, preferi pegar outro, um mais luxuoso, mais classic. Era um Audi, que não era meu, mas suas portas se abriram como se eu sempre tivesse sido dona dele, como se tivesse vida própria. Era automático.

Dei uma volta, senti a potência do motor a cada vez que pisava um pouco no acelerador. Uau, que sensação.

E a imagem do pai de Fernanda não saía de minha cabeça, como se tivesse me contaminado. Ele azul e verde, grotesco, pegajoso, nojento.

Batí, não uma super batida, simplesmente encontei em um poste a dona do carro apareceu, e brigou e me xingou. Não tinha acontecido nada com o carro, mas isso não era importante.

Saí e decidi pegar meu corsa azul, dei a partida e saí. Passei pela praça, pela rua do colégio, da cadeia, da casa da Fernanda e me vi voando pelos asfaltos, luzes e faróis do bairro da Saúde!

A manhã foi totalmente diferente!

Um comentário:

Sinceras e Apimentadas disse...

Nossa, foi forte!

Dá uma passadinha pra espiar a gente.
Beijinhos querida.