Corria sem olhar para os lados, não queria ter ciência do que estava acontecendo. Saiu a galope, como se não houvesse outra coisa pra fazer na vida, a não ser correr. Pulou muros, chutou poças, pisou em pedras com os pés descalços e sangrou. Não parou enquanto havia forças em suas pernas, assim sentia o choque elétrico de seu sangue em companhia de seus músculos. Correu, porque assim não precisaria pensar em mais nada além do vento em seus cabelos, dos pés sangrentos, do suor seco em mistura com o cheiro de toda sujeiro pisada, e em seu caminho. A frente, sempre a frente.
Enquanto corria e gemia de dor, pensava em todos os momentos ruins que aconteceram e aí sim saia em disparada. Um amor desfeito, um machucado profundo, dor, sofrimento, a perda de amigos, de família, de mais amores. Perdeu o emprego, perdeu dinheiro, perdeu festas, saídas, oportunidades. Perdeu tudo que tinha e gostava, de uma vez ou de muitas separadas. Pensando assim corria com mais força... Correr não era mais saudável, era uma questão de sobrevivência. Sobreviver a tudo aquilo que queria esquecer.
Os momentos passavam em frente aos seus olhos como um álbum de imagens e vídeos. Rodando em alta velocidade, assim como seus pés. Que sangravam.... Para que não sangrasse o coração. Era sim, acima de tudo, uma lutadora. Lutou contra si, contra todos. Lutou para permanecer de olhos abertos mais alguns intantes, não por medo, por preguiça. E corria, corria, corria.
Não adiantava as vozes ao redor pedindo para que se acalmasse, para que pensasse em tudo de bom que acontecera em sua vida. Não adiantava seus amigos chorando enquanto corria. Só queria chegar no fim o mais rápido possível, só queria correr, e esquecer, por uma vida inteira, que existiu.
E correu, até que chegou em um beco sem saída, uma montanha e um rio no fim. Era parar ou cair. Pensou em sorrisos e flores, música, chocolate.....Resistiu enquanto pôde, desacelerou o passo. Percebeu que talvez fosse melhor parar, e voltar correndo, e curar os pés, o coração a alma.
E então parou....
Nessa hora seus pés sangrentos escorreram pelo chão de areia e pedra, e tropeçou. Caiu como em um mergulho, pensando em sorrisos e lágrimas..... Esticou os braços e graciosamente tocou o ar e agradeceu...... Tudo tinha acabado!
2 comentários:
Mano que dor do cacete!
Eu acho que qualidade é sempre melhor.
Obrigada pela visita no nosso blog. Add a gente.
Beijinhos,
Nane
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