quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Capítulo I

A cidade acordou como de costume. A padaria do Senhor Leopoldo trabalhava a todo vapor, os passarinhos faziam seus ninhos nos galhos das goiabeiras, Dona Rosa varria a calçada de sua casa. O desastre de ontem parece que não deixou marcas visíveis, pelo menos assim parecia quando se olhava para a cidade de Hoteleiras.



Se a cidade parecia inerte ás marcas deixadas pelo acontecimento, assim não fazia o coração de Letícia. Essa sim mostrava em sua fisionomia o estrago do dia anterior. Parecia que tinham arrancado de seu tão frágil corpo todas as costelas. A dor era tão grande, tão forte que acordar era uma questão de rotina. Não que ela conseguisse dormir.



Seus olhos já tinham marcas fundas, como se tivessem lhe dado um soco há algumas semanas atrás. Sua cor, castanho-claro brilhante, não passava de uma macha opaca no globo ocular vermelho. Letícia não entendia porque a cidade continuava funcionando enquanto ela já não tinha mais forças pra seguir um novo dia. Novo...

Levantar era doloroso demais, só o ato de abrir os olhos já a fazia tontear, foi um ano e tanto. Ou será que foi uma semana? Uns dias? Um dia.

Mas não, ela não podia se deixar abater. Vinha de uma família muito forte, as mulheres eram todas orgulhosas, como se nada as afetassem de verdade. Os homens todos bem sucedidos, ou no caminho do sucesso. Pelo menos aos olhos de Hoteleiras. Com toda uma família assim, como podia se deixar largada na cama por um simples corte no coração? Não, isso tinha que mudar!

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